22/02/2008

Escravidão I

O pensamento simplista do séc XIX via a escravidão como uma via de mão única: oprimido e opressor – a dialética pseudocientífica. A escravidão não vem só do senhor, e a forma mais eficiente de escravizar não é cansar o escravo até a rendição, mas fazê-lo acreditar que é livre - não se esgotam suas forças, mas as direciona para a escravidão. Onde o espírito não aceita ser escravo, brota a revolta ou o banzo, e o sistema rui na impossibilidade. Os Malês também incorporavam no seu espírito a escravidão – só queriam mudar de lado, os outros africanos a tinham na sua cultura – só mudaram de lado, as tribos indígenas em nenhuma América foram passíveis de escravização, já as sociedades indígenas escravocratas...

Somos escravos do sistema trabalha-consome? Sua vida transforma-se profundamente se você mudar de candidato? Que opção realmente você tem, senão escolher qual trabalho e o que consumir? O problema não é nenhuma escravidão, mas a liberdade que começa a desbotar muito mais intensa em algumas mentes futuras. O que é escravidão senão a perda daquilo que se pensa ser liberdade, e a liberdade senão aquilo que se pensa sê-lo? Muitos açoites fizeram-se sobre homens livres, e bastantes salários são pagos a escravos. A fronteira do ser livre à escravidão é o instante em que as forças do senhor não satisfazem mais a sensação mínima de liberdade do escravo, e essa fronteira é tão elástica quanto flexível for o homem. Neste ponto, os militares, presos às regras rígidas, costumam ser muito mais livres que nós. Mas nós, os precoces, não queremos fardas e, para dizer a verdade, nem ternos.

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