13/04/2008

Máquinas

A antiguidade conhecia a força do vapor, mas nunca atingiu a máquina. Ela é fruto do preciosismo técnico do pensamento de Aristóteles, que germinou no cuidado teológico medieval de minuciar dogmas. A cultura dessas minúcias por séculos legou-nos a tecnologia que temos, filha de uma ciência refinada nos detalhes. O homem da antiguidade estava mais preocupado com os efeitos gerais, as conseqüências, a multiplicidade, o rompante criador, por isso a maestria plástica era exceção à técnica rústica. Ele jamais detalharia uma ciência no nível necessário para produzir uma tecnologia avançada. Devemos nossas máquinas ao solo fértil do cristianismo medieval.
Nietzsche já disse isso, mas ele não falou que o espanto deste desenvolvimento, a maquinação da vida, tirariam nossos olhos do todo - estamos demasiado concentrados, especializados, olhando detalhes. Bom e ruim, o importante é que o cristianismo colabora com seu fim: busca o todo pelo foco no mínimo. Ele nunca chegará, mas não é essa a ideologia cristã, nunca chegar? Talvez percamos essa habilidade de foco um dia, e nossa tecnologia caminhará a passos de tartaruga, mas talvez aí sejamos menos fragmentados, mais completos, felizes. Não são as máquinas que nos fazem assim, elas são o efeito disto.

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