18/01/2008

Arte II

A arte é a estampa da construção da verdade, são os espelhos onde transformamos as coisas em objeto, mas que, antes de refletir as coisas, reflete nós mesmos. Arte é o local onde construímos o mundo que vemos, que se torna o nosso. Toda arte é metáfora do objeto. O Adão de Michelangelo está em igualdade a Deus, que todo esticado em seta aponta Adão, com esforço tentando tocar o homem. Adão displicentemente oferece a mão em posição para ser beijada. Ali está o renascimento, e o homem de seu tempo sentia isso ao ver o teto da capela. Boa parte da chamada arte moderna não tem meta fora do objeto para delimita-lo, para vê-lo, em vez disso ela foge desesperadamente do objeto tentando construir a metáfora da metáfora da metáfora. Por isso precisamos de explicações cada vez mais complicadas para entendê-la, quando deveríamos sentir o espanto ao ver o espelho de nosso mundo. Não se trata de a obra multiplicar significantes, transcendendo o que conscientemente seu autor pretendia, pois ele ali reflete também seu fundo, mas sim de encontrar uma resposta aleatória na roda da fortuna do discurso.

O que diz um prego em uma parede, fitas plásticas penduradas no teto ou um borrão em uma tela? Diz que não temos realmente nada a dizer. Esta arte gosta de dizer-se na periferia, mas em verdade ela é o centro, e a arte verdadeiramente pós-moderna está onde não se considera que haja uma.

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