13/01/2008

Janelas

Atrás da janela
há um homem vendo por ela
a constelação de janelas,
e atrás delas,
homens são vistos
e vêem
atentos
os cem tempos na cidade,
nos carros,
nas salas e nas cozinhas,
na lentidão da cama,
e o único tempo da solidão.

Quem ama
sempre dá mais do que recebe,
mas amamos,
sobretudo,
mais a nós mesmos
até minguar em desejo
e ausência.

Neste deserto urbano,
um corpo aspira a sensação de ser único,
vagando entre espelhos quebrados.

Parece que é tudo impossível,
como o sopro de segundo
em que acredito,
no fundo da alma,
que existe uma alma,
e que existe um eu
dentro do eu que sei,
e que já acostumei a viver
cedendo nas circunstâncias
até o limite.

Nada absolutamente é,
tudo é vejo,
e o que sei
está detrás de seis metros quadrados da janela do meu quarto
que se abre para o mundo
e me fecha,
em clausura,
nas suas cúbicas paredes.

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