02/01/2008

Em Si

Há céu para tanta erupção?
Às vezes chove negro em todo o país,
noutras assisto qualquer porcaria na televisão.
E essas coisas pequenas me preocupam,
mas elas nunca me vêem de fora,
são as gírias que empurram para as massas.

Gosto de ver as palavras
e a plástica da melodia,
enquanto a miséria explode em nossos olhos,
e o sorriso implícito por não ter tocado a carne,
ainda...

A cegueira é voluntária,
talvez necessária,
por isso o mundo passa nas eternas tentativas de um dia,
e o retorno desta mesma distonia.
Prefiro escutar aquela música repetitiva
do refrão de chuveiro
e,
de vez em quando,
o ruído de fundo do universo.

O esforço é inútil –
o que simplesmente existe desafia explicações.
Então, para que cadência?
Seja tudo simplesmente –
contemplação de infinito.

Vamos correr desvairando o ar fresco
tisnado de nada.
Olhe o pássaro,
a luz,
espere a lua misteriosamente
pairar sobre sua cabeça
e encha os pulmões
do insensato otimismo das crianças.

Mas passados alguns minutos,
me fragmento em milhões de perguntas,
e a vida pouco se sustenta
nas raras fibras do impulso.

Procuro toda sabedoria em uma sentença,
mas as orações são toadas de velhos bordões sem fé
nem esperteza,
então, vivo em nostalgia
de não sei quando,
nem onde,
e sei que era feliz,
talvez mais que só espontâneo.

E ainda assim,
apesar da impossibilidade de fazer outra coisa,
continuo –
haja eu
para tão pouco de mim.

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