23/01/2008

Holocausto - Olhos Seletivos

Os campos de concentração nazistas ressoam muito mais em nossas memórias que os extermínios do presente. Por quê? Os campos eram o exagero da sociedade em que vivemos - escravos que viviam para o trabalho desumanamente mecânico, líderes que não sentiam qualquer empatia por seu sofrimento, uma estrutura cega aos potenciais individuais, a massificação da morte e sua anestesia. Poderiam ser os gulags soviéticos, não fosse o lobby de quem hoje é parte poderosa do convívio ocidental. Os extermínios hoje são de alienígenas aos olhos cosmopolitas, desculpadamente abstendo-nos da empatia e da desacomodação, e também não são nossa estrutura extrema: são difusos, interiores, circunstanciais, caóticos. Não vivemos em caos, somos uma estrutura bem organizada em prol da produção, da anestesia e da morte em vida -de não se sentir vivo-, pois vive quem sente que a morte lhe espreita e esquiva-se dela em cada ato de vida. O caos não é a estrutura, é o que dela resulta – nós. Os extermínios hoje são duplamente estranhos aos nossos olhos – dão-se numa sociedade que não é a nossa e contra quem não vemos como iguais. Até que ponto não somos escravos do trabalho? Até onde nossa passividade aos extermínios em massa de hoje não nos identifica aos nazistas? O holocausto é nosso espelho convexo, onde atingimos nossos extremos, por isso é tão fascinante e horrível.

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